segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Vieira no Maranhão


Corria o ano de 1697 e depois de 89 anos dedicados ao serviço de Deus e do rei de Portugal, falece Antônio Vieira. À beira da morte e já com o corpo deteriorado pelas doenças provenientes da idade e do contato bruto com a natureza quase "selvagem" do Brasil, a luta de Vieira, nos últimos anos de sua vida, era pela conclusão de seus sermões e dos demais escritos.
"Surdo, cego e quase sem voz, incapacitado de escrever com as próprias mãos", ainda lhe restavam algumas forças para sair em defesa dos índios. O alvo eram os caçadores de escravos guaranis de São Paulo e os jesuítas rendidos aos interesses dos paulistas.
Aos índios dedicou mais de uma década de sua vida. Só no Maranhão e Grão-Pará passou quase 10 anos. Nesse tempo ergueu 16 igrejas e fazia o catecismo em sete línguas diferentes.
Quando chegou ao estado do Grão-Pará e Maranhão a região era ainda uma criança no que diz respeito a organização colonial portuguesa. Abrangia o a Amazônia e o atual estado nordestino e estava entrando aos poucos na esfera governamental lusitana.
Foi em 1653 que Vieira chega ao Maranhão com plenos e amplos poderes em relação ao trato com o indígena, ele era agora o Geral dos Jesuítas. A labuta no entanto era grande. Falava-se naquelas terras uma infinidade de línguas diferentes, chegando a comparar a foz do Amazonas com a Torre de Babel.
Vieira passou quase toda a década de 50 do século XVII na missionação dos índios do Maranhão e Grão-Pará. Essa foi, sem dúvida a época mais conflituosa da sua vida. A legião de desafetos crescia à medida que lutava pela efetiva salvação dos indígenas, sucesso que só viria dando um basta no apetite voraz dos colonos da região, que utilizavam-se da mão-de-obra indígena para todas as atividades econômicas locais como o trato com a cana-de-açúcar, o arroz, algodão e tabaco bem como os produtos conhecidos como "drogas do sertão", o cacau, cravo, baunilha, gergelim, canela, castanha, salsaparilha, tartaruga e seus ovos e o peixe-boi, bem como as madeiras que já eram exploradas: cedro, pau-roxo, pau-amarelo, jacarandá e outras. Como se pode perceber, sem o braço indígena não havia Maranhão!
Ao longo de 40 anos os colonos haviam destruídos mais de 400 aldeias. As soluções para os problemas com os indígenas foram sendo apresentados pelo jesuíta ao longo da década de 50 em cartas ao rei e mesmo nos sermões.
O próximo post trará um pouco das denúncias feitas por Vieira e as soluções apontadas por ele para o "bom" relacionamento entre colonos, indígenas e jesuítas. Até lá! :D

Referência: BULCÃO, Clóvis. Pe. Antônio Vieira: Um esboço biográfico. Rio de Janeiro, José Olympio, 2008.

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