Quando chegou ao Maranhão no início da década de 50, Antônio Vieira ocupava o cargo de Geral dos Jesuítas. As primeiras impressões que teve da situação espiritual desta terra não foram das melhores, em carta ao príncipe D. Teodósio, relata:
O desamparo e necessidade espiritual que aqui se padece é verdadeiramente extremo; porque os gentios e os cristãos todos vivem quase em igual cegueira, por falta de cultura e doutrina, não havendo que catequize nem administre sacramentos: havendo, porém, quem cative e quem tiranize, o que é pior, quem o aprove; com que portugueses e índios todos se vão ao inferno. [VIEIRA apud BULCÃO, 2008, p. 126]
A missiva enviada ao rei D. João IV também mostrou suas preocupações em relação ao Maranhão:
Os moradores deste novo mundo, que assim se pode chamar, ou são portugueses ou índios naturais da terra. Os índios, uns são gentios que vivem nos sertões, infinitos no número e diversidade de línguas; outros são pela maior parte cristãos, que vivem entre os portugueses. Destes que vivem entre os portugueses uns são livres, que estão em suas aldeias; outros são parte livre, parte cativos, que moram com os mesmo portugueses, e os servem em suas casas e lavouras, e sem os quais eles de nenhuma maneira se podem sustentar. [VIEIRA apud BULCÃO, 2008, P. 126/127]
O trecho do documento que acabamos de ler nos indicam algumas considerações importantes. Primeiro, Vieira admite haverem "dois tipos" de índios: os gentios - os que vivem nos sertões - e os que vivem entre os portugueses e participam do cotidiano destes. A partir de então temos de esclarecer estes "dois tipos" de indígenas. Os que ocupavam a faixa litorânea deste país que mais tarde seria denominado de Brasil, foram os que receberam em primeira mão o contato com os europeus, os Tupinambá (nome que se refere aos grupos indígenas do grupo linguístico Tupi). Os que viviam mais para o sertão são os não-tupi, os tapuia (palavra que designa o indígena não-tupi e que geralmente pertencem ao grupo linguístico Jê).
Compreendido este ponto passaremos para as denúncias que o Pe. Vieira fez em relação aos índios ao próprio Rei.
1)os maus tratos que os portugueses davam aos indígenas que trabalhavam em suas casas;
2)as entradas para captura de índios em "guerra justa", que segundo o padre eram cenas por demais violentas.
Segundo Vieira a questão dos maus tratos aos naturais da terra, era uma falta de respeito aos mandamentos divinos, o que só se resolveria com o envio de mais religiosos. A questão do cativeiro seria solucionada com a declaração da liberdade dos indíos e o fechamento dos sertões aos caçadores além da troca de governadores que fechassem os olhos para o trabalho forçado que os indígenas exerciam nas lavouras de tabaco.
Imaginem os conflitos que tais denúncias e soluções causaram na sociedade local!! Grande parte dos desafetos de Vieira é dessa época. Mais informações no próximo post.
MINUTO
Há 9 anos